Talvez não nos seja possível escolher a cruz que necessariamente
temos de carregar. Talvez nem mesmo nos seja possível fugir dessa cruz
escolhida e feita para nós desde os desígnios da eternidade. Talvez essa
cruz nos seja ofertada como um brinde natalício erguido às avessas
pelas mãos inescrutáveis que um dia nos criaram.
Sabemos, no entanto, que essa cruz é nossa, e está em nós, a partir do
instante mesmo em que abrimos os olhos para a visualização consentida da
nossa consciência; e que essa cruz se estende ao tamanho reduzido dos
nossos membros humanos e do coração.
Sim, talvez essa cruz nos seja erguida e eternamente ainda e sempre a
fazer-se, como fruto da carne que é mortal, mas que possui também a
possibilidade da redenção do seu pecado, já que o pecado inicial
conhecerá seu término no encontro possível com Deus.
Esse encontro é a esperança daqueles que sofrem as dores desse parto, na
certeza do seu divino fruto. Assim, o ato que a aceitação dessa cruz
tem um fundamento na escolha daquilo que o Padre João Batista Frota
chamou de “Procurando as Pegadas de Jesus” o arbítrio de quem escolhe a
liberdade dessa cruz como razão única e possível da sua existência. E
que dessa existência um hino de amor na doação abrir-se para os outros,
como cauterizador de tantas feridas alheias.
Assim, em sua obra “Procurando as Pegadas de Jesus,” a narração
religiosa das tradições, costumes, virtudes públicas e privadas, o padre
João Batista, portanto, abre caminho para a realização ontológico no
sentido de que o homem restabelecerá o seu encontro, não no centro, mas
em Deus, em cuja essência repousa Cristo, do qual, fala Paulo, somos
como membros do mesmo corpo, do qual Cristo faz parte, sem ter nenhuma
pretensão de ser destaque, pois que ele, como parte, é aquele que disse:
“tive fome e não me deste de comer”, ou seja, ele não é parte que virá,
que voltará, mas que permanentemente está. Ou seja, o padre João
Batista Frota nos fala em seu livro de um Cristo que não foi embora,
apesar de haver ressuscitado, senão de um Cristo que está em nós como
semelhantes.
De fato, no seu livro “Procurando as Pegadas de Jesus,” o padre João
Batista sabia já quais as verdadeiras pegadas a seguirem, atendendo ao
chamado daquele que tinha autoridade para a si mesmo proclamar-se o
caminho, a verdade e a vida. Era o caminho por dentro, a única via pela
qual é possível chegar-se às fronteiras do transcendente para o alcance
da vida na plenitude de sua vontade. O padre João Batista sabia disso e
achava preparado para as pegadas de Jesus em Jerusalém.
Dando sequência em seu livro, “Procurando as Pegadas de Cristo,”
enquanto padre podia ser dispensado, o homem estava pronto para
registrar as pegadas do Cristianismo que o conduzia no aprofundamento de
uma busca a ser feita com objetivo de diagnosticar o verdadeiro sentido
do ser humano, na sua essência, e não apenas sua contingência.
Conhecedor dos limites entre o homem e o divino. E é precisamente nessa
área existencial, inabordável, que o padre João Batista se deixou
arrastar facilmente pela humildade nas pegadas de Jesus.
Nosso padre escritor na sua bela obra, ensina com simplicidade e
humildade, como o apóstolo Paulo, em suas Cartas aos Coríntios, que a
principal característica do amor não é a felicidade pessoal, senão o
exercício da renúncia e do sofrimento.
O Mestre Eckhart nos adverte que a mente penetra o puro ser e o
conhecimento corre à frente, se adianta e abre passagem para que ali o
Filho Unigênito seja gerado. João Batista, no sentido de iluminar a
noite escura da alma, de que nos fala das pegadas de Jesus em sua grande
viagem mística, leva Deus à humanidade pelo conhecimento, pela oração e
pelo testemunho seguro de um homem de fé, lúcido e irrequieto, na
travessia dos seus 80 anos de vida.
Finalmente, o que nos mais alegra saber que o nosso padre escritor, com
sua cruz foi guiado por uma imorredoura pedagogia do amor, em sua viagem
a Jerusalém, foi tocado pelo fogo de Deus. Na verdade, sua clareza de
estilo, elegância no dizer e apaixonada visão do espiritual, na sua bela
obra “Procurando as Pegadas de Jesus” nos leva a uma verdadeira
releitura aberta do Cristianismo.
Por Eudes de Sousa
Jornalista e crítico literário
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